A felicidade existe ou é apenas uma miragem?

DESEJO

9/8/20252 min read

A felicidade existe ou é apenas uma miragem?

Vivemos em um mundo movido pelo desejo. Desejamos ter mais, ser mais, sentir mais. O capitalismo entendeu bem esse mecanismo e construiu um motor quase perfeito: criar novos desejos para curar as dores antigas, vendendo a promessa de que a próxima conquista — seja um carro, um cargo ou uma viagem — nos trará, enfim, a tão sonhada felicidade. Mas, como numa espiral infinita, cada desejo realizado logo perde o brilho, e outro surge para ocupar o lugar.

Platão já nos advertia: “Quem deseja, deseja o que lhe falta. Mas, se nada lhe falta, não deseja nada.” O desejo, portanto, é sempre filho da carência. Desejamos apenas aquilo que não temos; e, quando temos, já não desejamos. É um jogo em que a felicidade se desloca eternamente para o futuro. Como observa Comte-Sponville: “Se o desejo é falta, só desejamos o que não temos, nunca temos o que desejamos, logo nunca somos felizes.”

Schopenhauer, por sua vez, foi ainda mais ácido: a vida oscila entre a dor de não ter o que desejamos e o tédio de não mais desejar aquilo que já conquistamos. Um pêndulo implacável entre a frustração e o vazio.

Se tomarmos esse raciocínio a sério, a felicidade não seria um estado alcançável, mas uma utopia — algo sempre por vir, nunca no presente. Talvez sejamos condenados a perseguir miragens, confundindo desejo realizado com felicidade, sem perceber que, assim que o objeto é alcançado, ele deixa de satisfazer.

E então surge a pergunta desconfortável: será que a felicidade realmente existe? Ou será apenas uma narrativa que inventamos para dar sentido a esse movimento incessante de desejar?

Um contraponto necessário

Se Platão, Comte-Sponville e Schopenhauer tinham razão em apontar a impossibilidade de uma felicidade plena e duradoura, isso não significa que devamos cair no niilismo. Talvez a questão esteja em como entendemos o próprio conceito.

No Guia da Felicidade, a felicidade não é apresentada como um destino fixo, mas como uma jornada: um processo de autoconhecimento, acolhimento, resiliência e presença. Nesse olhar, a felicidade não é “ter o que desejávamos”, mas aprender a desejar o que já temos.

Aqui, a chave é inverter a lógica: em vez de correr atrás de desejos sempre novos, podemos cultivar o apreço pelo que já existe. Não se trata de negar o desejo — ele é motor da vida — mas de não torná-lo nosso tirano.

Felicidade como utopia ou como prática?

Talvez a felicidade absoluta seja mesmo uma miragem. Mas isso não a invalida. Como a linha do horizonte, ela nos orienta a caminhar. O problema surge quando acreditamos que só seremos felizes lá adiante, esquecendo que a estrada em si pode ser fonte de alegria e sentido.

Entre o ideal platônico inatingível e a prática cotidiana da psicologia positiva, talvez possamos encontrar um meio-termo: aceitar que a felicidade não é um estado permanente, mas um fluxo — feito de pequenos momentos de contentamento, de presença e de significado.

Afinal, se não podemos possuir a felicidade como coisa acabada, podemos ao menos habitá-la como experiência transitória. E isso já pode ser o bastante para transformar a vida em algo mais leve e pleno.

E você? Acredita que a felicidade existe ou que ela é apenas uma miragem?